sexta-feira, 4 de abril de 2008

Prato Cheio



Todo mundo sabe, a imprensa adora um crime comovente e uma tragédia dantesca. Nada mais adequado para impressionar a nação e aumentar os índices de audiência.
A cobertura jornalística no caso da menina Isabella Nardoni não foge à regra. A televisão se especializa na busca de emoção em cada canto, em cada coração. Cria reportagens cheias de suposições e sentimentalismo, declara todo e qualquer tipo de informação em plantões, flashes ao vivo, manchetes de repórteres, sobrevôos de helicópteros. Questiona a óbvia tristeza de curiosos que passam pelo local do crime. Faz chorar a funcionária do supermercado que acompanha o drama pela tv. Em seguida, um sociólogo ou psicólogo explica superficialmente tais sentimentos e reações. As reportagens esticam, espicham, torcem e retorcem a tragédia. Convence a todos. Até certo ponto.
O momento crucial é quando pensamos: "Meu Deus, isso virou uma novela!". Por fim, o ato violento perde a importância. A emoção fica banalizada. Dias depois, o autor do crime é revelado. Ficamos satisfeitos. Logo outro crime misterioso, impressionante, comovente vai aparecer nas manchetes e se transformar em drama nacional.

Ronaldo Cooper

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